José Othon Soares de Oliveira: uma grande perda para a engenharia paraibana
- Apenge-PB
- 15 de jun.
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Depoimento de Sérgio Rolim

Conheci José Othon, Zezinho, como o chamava carinhosamente sua esposa Valdete, durante o trote na Escola de Engenharia da Universidade da Paraíba (EEUP), em fevereiro de 1963.
Durante o curso de engenharia nos aproximamos e estudamos muitas vezes na garagem de minha casa situada na Av. Tabajaras, 1000.
Lembro-me que, em uma determinada ocasião, estávamos nos preparando na nossa garagem para a primeira prova do curso da disciplina “Geometria Analítica”, lecionada pelo grande mestre engenheiro Hélio Ferreira Guimarães, um dos profissionais mais inteligentes e preparados que tive a oportunidade de conhecer. Com o passar do tempo, o pessoal foi se cansando e todos resolveram ir para a casa. Com exceção do último, o colega Marcio Javan Ayres Viana, também companheiro inseparável das lides do voleibol durante as Olimpíadas Universitárias.
Algum tempo depois, já estava bem tarde, Marcio disse-me que já havia aprendido o suficiente para os exames no dia seguinte, e, resolveu ir embora, embora eu insistisse para que continuássemos um pouco mais. Resultado, quando recebemos a nota da primeira prova do curso, fui o único aluno da turma a receber a nota sete. Depois que Marcio havia saído, estudei mais um pouco e li um problema resolvido sobre o assunto, que, por coincidência, foi um dos problemas que estava incluído na prova. Óbvio, que fiquei com boa fama com o professor Hélio Guimarães.
Voltando a Zé Othon, sempre foi uma pessoa muito atenciosa, discreta e leal, além de católico fervoroso e um grande profissional na área de mobilidade urbana. No ano de 1975, quando foi lançado meu primeiro livro, “Manual do Reparador de Medidores de Água, pela CETESB, foi um dos primeiros a participar desse evento.
Zé Othon, originário de Araruna, PB, era primo dos Soares de Oliveira, importantes industriais da Paraíba, que realizavam intenso comércio internacional, com destaques para algodão e agave. Mantinham grandes negócios, principalmente com a Inglaterra. Precisavam de apoio em Londres para facilitar suas vendas. Durante sua juventude, recebeu uma proposta de um dos familiares para ser educado na capital londrina. Todas suas despesas seriam pagas e ele seria preparado para ser o elemento de contato entre os magnatas da Oxford Street e a Paraíba. Infelizmente ou não, não teve coragem de aceitar tão grande desafio. Porém, embora acredite na persistência e na resiliência das pessoas, creio que do destino ninguém foge. “Que será, será”, poderá ser incluída neste contexto, como é o título da conhecida canção, interpretada por Doris Day, lançada em 1956 para o filme "O Homem Que Sabia Demais". Esta música também recebeu um Oscar de Melhor Canção Original, com o título alternativo "Whatever Will Be, Will Be".
Quando estávamos a concluir o quarto ano de engenharia, foi o último colega a estudar comigo na garagem de minha casa durante o final desse quarto ano. Havia um grande quadro-negro nessa garagem e os rabiscos deixados durante nosso último estudo, ficaram gravados nesse tablado durante muito tempo, até meu pai vender nossa casa. Creio que eram estudos que versavam sobre “Resistência dos materiais”, ou tema semelhante. No ano seguinte, último ano do curso, as aulas eram realizadas à noite, quando inauguramos o Campus Universitário na Cidade Universitária. Durante o dia, estávamos ocupados, estagiando, cada qual na sua especialidade.
Durante toda nossa vida profissional, sempre nos encontrávamos anualmente, para comemorar as reuniões de nossa Turma 1967, cujo patrono era nosso querido professor engenheiro Serafim Rodríguez Martínez, diretor da EEUP, que considerava seus alunos como se fossem seus próprios filhos.
A Turma 1967 da EEUP foi uma das turmas mais brilhantes que passaram, pela Escola de Engenharia. Tivemos a ventura de ser alunos na época em que o curso era seriado, as aulas eram só pela manhã, das 7 às 12 horas, de segunda a sábado. Todos tinham tempo suficiente para estudar e estagiar pela tarde, com possibilidades antecipadas de unir a teoria à prática antes da conclusão do curso.
A Escola de Engenharia da Universidade da Paraíba (EEUP) formou 31 engenheiros em 1967. Foi uma turma que obteve muito sucesso na vida profissional, com destaques na Paraíba, no Brasil e no exterior. Dentre eles contamos com três doutores, um mestre em ciências, sete professores universitários, um Secretário Nacional de Saneamento, um Diretor Financeiro do Banco Nacional de Habitação (BNH), um Superintendente do Departamento de Águas e Energia do Estado de São Paulo (DAEE), um diretor da SUDENE, dois diretores da CAGEPA, um Secretário de Estado (Paraíba), sete ocuparam cargos de superintendentes e/ou diretores no DER/PB, dois na PETROBRAS, um grande especialista em cálculos estruturais, três grandes empresários da construção civil, um especialista em explosão submarina (underwater blasting) e dois consultores da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS) que trabalharam em vários países das Américas.
Zé Othon exerceu os cargos de Diretor de Obras do Departamento de Estradas de Rodagem da Paraíba (DER/PB) em dois governos, Diretor Geral da Secretaria dos Transportes e Obras do Estado da Paraíba e Coordenador de Obras nos estados da Paraíba, Rio Grande do Norte e Alagoas, como engenheiro da Construtora Enarq, dentre outros. Posteriormente trabalhou na Novatec Construção e Empreendimentos Ltda, durante 14 anos, como gerente da unidade de produção de concreto betuminoso usinado a quente destinado a obras rodoviárias.
Recebeu a Medalha de Jubileu de Prata do CREA/PB, onde atuou como conselheiro, primeiro-secretário e tesoureiro. No Clube de Engenharia da Paraíba foi tesoureiro, vice-presidente e presidente
Há cerca de um pouco mais de dez anos, intensificamos nossos contatos, graças à criação da Academia Paraibana de Engenharia (Apenge), onde foi um dos fundadores. Zé Othon ocupou o cargo de diretor financeiro durante os quatro primeiros anos de início da Apenge e o de vice-presidente, durante mais dois mandatos. Recebeu duas homenagens da nossa academia pelo seu profícuo trabalho durante seus oito anos em cargos importantes desempenhados, culminando com o título, mais que merecido, de Acadêmico Emérito da Apenge, ambos recebidos em 2023.
Fará muita falta na nossa academia, como também no rol de nossos amigos fraternos.
Infelizmente, o tempo é inexorável. Mais um grande amigo que vai para outro andar. É com grande emoção que escrevo estas modestas palavras, rememorando ainda outros três grandes queridos amigos e colegas de turma que partiram recentemente: Luiz Nelson de Oliveira, Martinho Ubirajara Melo Chianca e Tarcísio Fagundes de Sousa.
Com certeza, Deus terá reservado um lugar excelente para Zé Othon no Reino dos Céus. Que nosso querido amigo descanse em paz!
João Pessoa, 15 de junho de 2025
Sérgio Rolim Mendonça
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